domingo, janeiro 02, 2011

"A paixão não é assim? Barulhenta? Brincalhona? Quanto menos correspondida, mais sentida? Ou isso é teimosia?

(...)

Há tantas perdas. Tantos outros medos. O medo de não ser amado é doloroso demais. É como um botão fechado de flor.

(...)

Os sorrisos se perdem, o mundo se apequena.
Nada mais tem sabor.
Os encontros voltam a perder o significado porque só uma mão se interessa para ser enlaçada.
Os dizeres de tantas vozes carinhosas se perdem.
É a surdez da espera de uma única sinfonia que talvez ainda nem tenha sido composta.
Projeções!

(...)

O inferno são os outros. Porque projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles uma ação que amenize o vazio que nos habita.
Isso não é possível.
Porque cada um tem de experimentar o território sagrado do silêncio e da solidão.
E cada um, para exitir de fato, tem de dar conta do próprio vazio.

(...)

Acredito que as pessoas que se apaixonam e não são correspondidas têm esse medo do silêncio que desnuda os sentimentos e edifica um oráculo, a intimidade dos segredos que segredam, quando não há barulho, a parte mais complexa das nossas dores.
Fala-se muito para que o silêncio não revele o essencial.
É o temor que tem a face embrutecida pela rudeza das opções equivocadas em se perceber novamente.

Porque não olhar e entender os exageros cometidos?
Não falo dos choros prolongados, das noites barulhentas, das hitórias recorrentes fantasiosas de um amor sem amor.
Falo do medo esquisito de sair do escuro e reencontrar a luz.
Há tantos que desistem da luz e que rastejam em busca de uma migalha a que chamam atenção, ou pior, amor, e que usam para desculpar alguma estranheza do objeto amado.
Sim, porque o causador da tempestade se torna um objeto presente nos pensamentos e nas conversas, vivificado em sonhos e bilhetes.

(...)

Chorar por amor como coisciência de estar vivo.
Chorar por amor é melhor do que sua ausência.
Chorar o tempo certo, depois é preciso viver!
Era essa a sabedoria: chorar o tempo certo.
O tempo da compreensão de que o outro simplesmente não nutre por mim os mesmos sentimentos. Talvez não passe de uma obsessão, de um pacto que eu fiz comigo mesmo convencendo-me de que o outro, o anjo alado, que terá de me encontrar para partilhar da minha história.

(...)

A dor da paixão traz esses infotúnios. Mas passa, se tivermos a maturidade de conversar com o tempo. O que dificulta é a impaciência. É a recorrência no erro...

(...)

Amar não é possuir, muito menos destruir. Amar não é usar e desprezar. Amar não é exibir. Não!
Amar é experimentar o bom e o belo numa harmonia que se aprendia e se vivia. É como tocar cítara. Só se aprende, tocando.
E só se aprende, querendo. Amar se aprende amando e querendo.
Não há como impor ao outro a obrigação de amar."

(Gabriel Chalita- "Cartas entre amigos - Sobre medos contemporâneos")

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